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Ponto de Vista: Ovodoação sob a visão médica

SBRH – No Brasil, a ovodoação não pode envolver fins lucrativos, e dificilmente alguém doa óvulos de uma forma altruísta. Como então as clínicas habitualmente encontram doadoras? Joaquim -Trabalhamos com o Programa de Doação Compartilhada. Quando indicamos FIV em mulher com menos de 35 anos, boa reserva ovariana, visível estabilidade emocional (no casal) oferecemos a possibilidade de doar metade de seus óvulos para uma mulher que será mãe apenas se contar com a generosidade de outra mulher. Essa doação só acontecerá na vigência de uma coleta mínima de oito óvulos. Quando percebemos nesse casal uma receptividade a essa proposta, o mesmo é orientado para uma entrevista com nossa equipe de psicologia. Estando o casal emocionalmente apto, a mulher doadora fará exames específicos. Quando a doadora necessita de partilhar os custos do procedimento, a receptora é convidada a contribuir no tratamento.

SBRH – Quanto às doadoras, quais exames são obrigatórios para que a mulher possa doar óvulos? Os exames de reserva ovariana devem ser realizados?
Joaquim – É fundamental uma história clínica que afaste doenças de cunho hereditário na família da doadora. Independente disso, realizamos ABO/RH, teste de reserva ovariana (FSH, estradiol e contagem folicular na fase folicular inicial) e cariótipo em todas as doadoras. Adicionalmente, pode ser solicitado teste falcêmico e outros que sejam indicados.

SBRH – O desenvolvimento da vitrificação vem mudando a forma em que são feitos os ciclos de ovodoação? Já existem bancos, como os bancos de sêmen?
Joaquim – Nossa lista de espera de receptoras é muito maior do que a disponibilidade de doadoras. Com isso, não temos como formar banco de óvulos.

SBRH – Qual o percentual de ciclos de ovodoação feitos na Europa? E no Brasil? O casal brasileiro é mais relutante em aceitar óvulos doados? Joaquim – Não dispomos dos dados que nos informem o montante de ciclos de ovodoação na Europa. Tão pouco temos os dados exclusivos do Brasil, entretanto, podemos informar que o Registro da Rede Latinoamerica de Reprodução Assistida menciona em seu boletim publicado em 2011 que nos últimos 15 anos foram realizados 32.633 ciclos de transferência embrionária com óvulos doados. Quanto à postura do casal brasileiro – ainda relutante em abdicar da herança genética para estabelecer sua família – tende a se liberalizar. O tema tem sido abordado com frequência na mídia, especialmente em novelas, o que ajudará a derrubar tabus previamente estabelecidos. Independente disso, a realidade da sociedade atual de postergar a maternidade faz com que cresça o contingente de mulheres que decidem engravidar quando sua fertilidade encontra-se em declínio e a solução procriativa passa pela doação de óvulos.

SBRH – Qual é o preparo endometrial que se utiliza nas receptoras? E até quando deve ser mantida a estrogênio terapia em caso de gestação? Joaquim – Existem duas maneiras: a) alternativa com uso de óvulos frescos – pareiam – se duas mulheres (doadora e receptora) que utilizarão medicações que visam estimular os folículos nos ovários da doadora e preparar o endométrio na receptora. Esta possuindo ainda função cíclica ovariana fará supressão prévia com análogo GnRH e depois espessará o endométrio com uso de estrogênio (oral, vaginal, transdérmico). Não tendo mais função menstrual, a fase de supressão hipófise-ovariana é desnecessária e segue com o uso de estrogênio. No dia que os óvulos da doadora são colhidos, a receptora, por sua vez, deve estar com o endométrio semi-pronto para receber os embriões. Resta ultimar a preparação endometrial com progesterona natural (vaginal, oral ou intramuscular). No quarto dia de uso da progesterona os embriões, resultantes dos óvulos doados e inseminados com os espermatozóides do parceiro da receptora, são transferidos para o endométrio receptor, b) alternativa com óvulos vitrificados. Nesse caso a doadora colhe os óvulos e partilha com a receptora os óvulos colhidos. A metade que cabe à futura receptora são criopreservados e na época oportuna, após preparação endometrial da receptora é feita a transferência dos embriões. Tendo a mulher engravidado, o apoio com estrogênio e progesterona se mantém até 12 semanas de gravidez. Vale lembrar que o uso de ácido fólico nunca deve deixar de ser associado como medida antiteratogênica.

SBRH – Quantos embriões podem ser transferidos para a receptora? E quais as taxas de gestação por ciclo?
Joaquim – A resolução n° 1957/2010 do Conselho Federal de Medicina determina que sejam transferidos um máximo de dois embriões para mulheres com menos de 36 anos. Até três embriões para mulheres de 36 a 39 anos e um máximo de quatro embriões para mulheres acima de 40 anos. Essas normas não disciplinam o número de embriões a serem transferidos para receptoras. Entretanto, independente da idade da receptora, ao receber embriões oriundos de óvulos de uma mulher jovem, o número não deve ultrapassar dois embriões de boa qualidade. As taxas de gravidez clínica giram em torno de 40 a 50% das transferências realizadas.

SBRH – Por que, habitualmente as taxas de gestação nas receptoras é maior do que nas doadoras?
Joaquim – Nem sempre é observado isso nas estatísticas. Entretanto, é provável que as medicações usadas na estimulação dos ovários das doadoras tenham um efeito negativo sobre o endométrio, prejudicando assim a implantação embrionária.

SBRH – Considerações finais.
Joaquim – Uma constatação de cunho sociológico, presente em todo o universo, nos leva a concluir que a mulher adia cada vez mais seu projeto maternal. As desigualdades de gênero, que levam a mulher a competir em condições desiguais com o sexo masculino, fazem-nas escolher o momento de procriar quando atingem uma maior estabilidade no mercado de trabalho. Nem sempre esse momento é o adequado à maternidade. É um fato notório que a fertilidade feminina declina lentamente a partir dos 35 anos e, celeremente, após os 40 anos. As estatísticas mundiais mostram que cresce o número de nascimentos do primeiro filho em mulheres mais maduras.
Infelizmente, nesse momento surgem as dificuldades e as clínicas de fertilidade convivem cada dia mais com mulheres querendo ter seus filhos após os 40 anos. Muitas vezes o patrimônio folicular nos ovários já se esvaiu. A qualidade dos poucos óvulos colhidos não permite uma gestação com sua própria genética, nem mesmo com sofisticadas técnicas de reprodução assistida. Enquanto a medicina se esmera em descobrir alternativas para reduzir a depleção oocitária na mulher, especialmente após os 35 anos. Nós que trabalhamos com medicina reprodutiva temos que aprimorar, cada vez mais, as técnicas de doação de óvulos. Sabemos dos conflitos éticos e religiosos que envolvem o tema, entretanto, enquanto a ciência não corrige a desigualdade biológica que ainda impera, temos que recorrer a ovodoação como medida que possa ao menos devolver à mulher o direito reprodutivo que o tempo lhe roubou.

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