Será uma nova ERA?
Mas porque colocamos embriões de boa qualidade e mesmo assim eles não se fixam no útero? Esta é uma pergunta que tento esclarecer para muitas mulheres que fazem a fertilização in vitro (FIV) e têm o resultado negativo. Apesar de ainda não termos todas as respostas, um teste pode nos ajudar a avaliar a receptividade do endométrio ao embrião – o teste ERA (endometrial receptivity array).
A proposta é muito boa, pois enfoca a teoria de que algumas mulheres possuem o endométrio, que é a camada interna do útero onde o embrião tem que se fixar para que ocorra a gestação, não receptivo, ou seja, inadequado para receber este embrião no momento em que ele foi colocado no útero.
O teste foi desenvolvido na Espanha e consiste em realizar uma biópsia do endométrio, exame no qual as células do endométrio são retiradas por uma técnica que pode ser realizada em consultório à semelhança de um exame ginecológico. Este exame pode ser feito com o uso de medicações para preparar o útero para receber o embrião ou em um ciclo menstrual natural, sendo o mais importante o estabelecimento do momento adequado para fazer a biópsia, que seria o dia também da implantação do embrião caso a fertilização in vitro estivesse prevista. São então analisados 238 genes que irão identificar se o útero está ou não receptivo ao embrião.
Caso o endométrio tenha o resultado não receptivo, são realizados ajustes hormonais em relação ao tempo necessário de uso de determinadas medicações para que o endométrio seja receptivo. Por exemplo, habitualmente usamos cinco dias de medicação para então realizar a transferência dos embriões. Para algumas mulheres, o teste ERA mostra-se não receptivo nesta situação, mas sim receptivo com quatro ou sete dias, por exemplo. Segundo os estudos espanhóis, ao fazer estas correções, as taxas de gravidez aumentaram de forma significativa nestas mulheres que apresentaram resultado inicial não receptivo.
O ERA não nos dá todas as respostas, pois cerca de 85% das mulheres têm o resultado como receptivo, mas certamente nos auxilia a esclarecer o processo de implantação do embrião. Além disso, em cerca de 15% das mulheres com resultado negativo de gravidez após a transferência de embrião de boa qualidade, espera-se que o ERA seja não receptivo. E são essas mulheres que terão o maior benefício em realizar este exame na medida em que estarão mais próximas do sonho da maternidade após a correção da receptividade do útero.