OUTUBRO ROSA
As técnicas de preservação da fertilidade podem ajudar mulheres que superaram o câncer de mama a não terem que enfrentar a infertilidade em seguida, uma vez que o tratamento desse tipo de tumor pode comprometer a fertilidade de forma temporária ou definitiva. Depois do tratamento do câncer de mama, as mulheres querem retomar seus projetos de vida e, muitas vezes, isso inclui ter filhos.
Além do impacto emocional e de todas as repercussões na vida de uma mulher que recebe o diagnóstico de câncer de mama, uma das preocupações adicionais que vêm à tona, muitas vezes, é se ela ainda poderá ser mãe. Com os avanços da medicina, o câncer de mama tem 90% de chance de cura, quando diagnosticada em estágio inicial, o que reforça a importância da prevenção através dos exames de rotina e dos hábitos de vida saudáveis. As mulheres acometidas por esse tipo de tumor e tratadas adequadamente continuam a viver bem e, por isso, manter a capacidade reprodutiva é um dos aspectos que devem ser levados em conta pelas pacientes que sonham em ter filhos. Alguns tratamentos para o câncer de mama podem comprometer a função hormonal e causar infertilidade temporária ou mesmo levar à falência ovariana, desencadeando infertilidade definitiva e, consequentemente, menopausa precoce. “É preciso avaliar, de forma criteriosa, a possibilidade de realizar o congelamento de óvulos antes de iniciar um tratamento de câncer de mama, especialmente as mulheres que desejam ter filhos, para evitar que depois de superar a doença, elas ainda tenham que enfrentar uma infertilidade”, afirma o ginecologista Joaquim Lopes, especialista em Reprodução Humana e diretor do Cenafert – Centro de Medicina Reprodutiva. Ao receber o diagnóstico do câncer de mama e antes de iniciar o tratamento, a paciente pode conversar com seu oncologista sobre a possibilidade de preservar a fertilidade.
De acordo com estimativa do INCA, o Brasil deve ter 66.280 casos novos de câncer de mama em 2020, com um risco estimado de 61,61 casos novos a cada 100 mil mulheres. O câncer de mama é o de maior incidência em todas as regiões do país, depois do câncer de pele não melanoma.
Uma das alternativas para manter a capacidade reprodutiva é a criopreservação de óvulos através do método de vitrificação, considerado eficaz e seguro. A técnica permite o ultrarresfriamento dos óvulos em baixíssima temperatura (-196ºC) e de forma muito rápida, preservando a sua qualidade no ato do descongelamento ou desvitrificação para fertilização em seguida. Considerado um método mais avançado de criopreservação, a vitrificação proporciona taxas de gestação altas, uma vez que o procedimento conserva as características, a idade e a qualidade dos gametas femininos. Durante o processo de congelamento, os óvulos são desidratados e tratados com substâncias crioprotetoras antes de serem congelados. “A técnica é uma forma de assegurar o direito reprodutivo da mulher depois que ela se submeteu a um tratamento oncológico bem sucedido”, explica a médica Valentina Cotrim, especialista em Reprodução Humana, do Cenafert
Outra opção a ser considerada é o congelamento de embriões para futura implantação no útero, Nesse caso, é feito o procedimento de Fertilização in Vitro. Os óvulos coletados são fertilizados com o espermatozoide e os embriões obtidos são congelados para serem implantados no momento que a paciente decidir pela gravidez. A indicação de cada técnica para preservação da fertilidade é individualizada e depende de vários aspectos, que devem ser alinhados adequadamente entre a paciente e o especialista em Reprodução Humana. Sobre o momento certo para engravidar, a paciente deve consultar também o oncologista.
“Cada caso é um caso e nem sempre o tratamento oncológico vai afetar a fertilidade da mulher, muitos fatores, como o tipo de tumor, as drogas utilizadas na quimioterapia, a dosagem e a idade da mulher podem influenciar a capacidade reprodutiva, causando infertilidade temporária ou irreversível”, esclarece Joaquim Lopes.
Os métodos de preservação da fertilidade são indicados não apenas nos casos de tratamento oncológico. Segundo Valentina Cotrim, “a mulher que precisa adiar sua maternidade pelos mais diversos motivos, seja para investir em sua formação e carreira profissional ou porque ainda não tem um parceiro estável, dentre outras razões, pode optar também por congelar seus óvulos para uma gravidez futura, quando ela decidir”. A recomendação, no entanto, é que o congelamento seja realizado até os 35 anos, uma vez que após essa idade a quantidade e qualidade dos óvulos diminui acentuadamente. “Com o congelamento de óvulos, a mulher pode ter filhos com seus próprios gametas mesmo tendo entrado em falência ovariana e menopausa precoce”, explica a especialista.